A representação dos fundamentos da vida parisiense, como ocorre na maior parte da obra de Honoré de Balzac, é especialmente aguda em "A menina dos olhos de ouro", publicado pela primeira vez em 1835. No capítulo que abre a novela, Fisionomias parisienses, a descrição ácida de diversos tipos que formam o mosaico social da cidade desemboca na conclusão: Em Paris, toda paixão se resume a dois termos: ouro e prazer. Filho de um lorde um lorde inglês com quem não tem contato, e de uma marquesa francesa que se casou com um velho cavalheiro que a acolheu grávida mediante dote pago, o Henri de Marsay torna-se um jovem belo, rico e bem-sucedido no complexo emaranhado de relações da alta sociedade francesa. Numa caminhada ele se depara com uma linda e enigmática moça dona de dois olhos amarelos como os de um tigre, um amarelo de ouro que brilha, de ouro vivo, e imediatamente se apaixona por aquela que descobre ser Paquita Valdès. A aproximação de Paquita, cercada de mistérios (ele deve ir de olhos vendados em uma carruagem para um lugar que desconhece), leva o jovem de Marsay a uma perda de controle a que não está acostumado. O erotismo que permeia a alta aristocracia é pintada com cores cruas, e esse realismo que de Marsay terá de encarar, já sem venda nos olhos.
Honoré de Balzac, nasceu em 1799 em Tours, França, em uma família burguesa de poucos recursos (ele acrescentou o aristocrático “de” na idade adulta). Em 1816 matricula-se no curso de direito na Sorbonne, em Paris, e começa a trabalhar como auxiliar num escritório de advocacia de um amigo da família. Em 1819, abandona o emprego para se dedicar a seu projeto de vida, tornar-se escritor. Em um sótão, inicia seu hábito lendário de escrever febrilmente o dia todo, alimentado por dezenas de xícaras de café. Balzac produziu rapidamente uma série de romances cada vez mais bem-sucedidos. Também abriu uma série de negócios malsucedidos, incluindo uma editora e uma fazenda de abacaxis, que o deixaria, apesar da crescente fama, sempre aflito e com dívidas pelo resto da vida. Sua casa em Paris tinha uma saída secreta para fugir dos credores. Pioneiro no realismo, sua monumental e excepcional obra A Comédia humana, composta de 95 volumes, traz uma visão geral da sociedade francesa da primeira metade do século XIX. Fazem parte livros como Pai Goriot, Ilusões perdidas, Eugénie Grandet e A mulher de trinta anos. Em 1850 casou-se com a condessa polonesa Ewelina Hańska com quem manteve correspondências românticas por 18 anos, morrendo três meses depois.