Um historiador francês, procurando o local perdido de uma antiga batalha romana nas planícies da Andaluzia, encontra, por acaso, um homem que descobre ser Don José Navarro, um notório bandido com a cabeça a prêmio. Sentindo simpatia pelo salteador, cujo rosto é "a um tempo nobre e feroz", ele o ajuda a escapar da polícia. Tempos depois, reencontram-se em Córdoba, onde Don José está preso, condenado à morte. Em seus últimos dias, o prisioneiro conta sua história, que tomou um rumo sem volta da primeira vez que colocou os olhos na cigana Carmen, em Sevilla. Era, então, um jovem oficial do exército com uma carreira promissora pela frente. Alguns autores conseguem a façanha de estabelecer seus personagens no repertório cultural de uma nação. E há aqueles personagens que transcendem nações, línguas e gerações. Este o caso da cigana Carmen que, na Espanha de 1830, se esgueira por entre as pessoas e os adjetivos bela, magnética, independente, esperta, malandra, exuberante, entre outros tantos sem que nenhum consiga lhe prender. Carmen, novela escrita em 1845, deu origem ao musical de mesmo de nome, de Georges Bizet (1838-1875), que permanece como uma das mais conhecidas e populares óperas de todos os tempos.
PRÓSPER MÉRIMÉE em Paris em 1803, filho de pais professores de desenho, muito ligados às artes. Formou-se em direito em 1823 e em 1825 publicou seu primeiro livro, Le Théâtre de Clara Gazul, uma suposta tradução de peças escritas por uma atriz espanhola e traduzida por um Joseph L'Estrange. Em 1827, veio outra “tradução”, a sátira La Guzla. Em 1830, traria de uma longa viagem à Espanha os temas e ambientes fundamentais de seu trabalho mais conhecido, Carmen, que seria publicado em 1845. Em 1834 assumiu o posto de Inspetor Geral dos Monumentos Históricos. No cargo, que ocupou até 1860, contribuiu ativamente para a conservação da memória arqueológica francesa. Entre inúmeras ações, liderou com sucesso um protesto para salvar a cidade medieval de Carcassonne da destruição. Algumas de suas novelas mais conhecidas, como La Vénus d'Ille (1837) e Colomba (1840), destacadas peças do romantismo, tiveram nítida influência de seu trabalho de Inspetor Geral e historiador – mesmo o narrador de Carmen é um arqueólogo. Morreu na cidade de Cannes em 1870.