A tradução da palavra grega ascese para o português é exercício. Escrito em parágrafos curtos, que muitos estudiosos da obra comparam a versículos bíblicos, "Ascese" de Nikos Kazantzákis é um exercício espiritual. Em carta ao escritor Pandelis Prevelákis, Kazantzákis diz que não se trata de obra de arte literária ou filosófica, mas que constitui certamente o mais dilacerante brado de sua vida, um brado de busca e temor, um grito da alma (vide prefácio). De difícil classificação, este poema-ensaio-grito dá-se na forma de um denso monólogo interior, em que o autor trata com elegância e concisão de temas que lhe são caros e que estão presentes em muitos de seus romances, como "Vida e proezas de Aléxis Zorbás" (Grua, 2010), "A última tentação" (Grua, 2015) e "O Cristo recrucificado". Kazantzákis enxerga o homem como campo de batalha em que alma e corpo, sagrado e profano, finito e infinito, efêmero e permanente estão em constante tensão. Desde o verme cego no fundo do oceano até a arena infinita da Galáxia, apenas um está em combate e se encontra em perigo: o nosso próprio eu. A edição, que contém prefácio crítico de Silvia Ricardino, manteve o subtítulo original em latim, Salvatores Dei, que quer dizer Salvadores de Deus. Para o autor, é com a construção do eu individual, desse homem inquieto que ferve e age, que se reconstrói Deus.
Nikos Kazantzákis nasceu em 1883 na ilha de Creta, ainda sob domínio turco, e morreu na Alemanha em outubro de 1957. Estudou Direito na Universidade de Atenas e Filosofia na Universidade de Sorbonne, em Paris. Considerado o mais importante autor grego do século XX, é autor de romances como A última tentação de Cristo (1955), O Cristo Recrucificado (1954), O Capitão Michális (Liberdade ou Morte) (1953) e Testamento para El Greco (1961), entre outros. Escreveu, também, livros de viagem, ensaios filosóficos, poemas e peças de teatro. Em seu trabalho de tradução para o grego, destaca-se a Divina Comédia. Viveu boa parte de sua vida fora da Grécia. Foi, ainda, no final dos anos 1910, colaborador do governo de Eleftherios Venizelos, sendo nomeado Ministro da Previdência e Assistência Social.
Vida e proezas de Aléxis Zorbás (1946) deu origem ao filme Zorba, o Grego (1964) de Michael Cacoyannis.