Em março de 1890, o engenheiro agrônomo e médico veterinário Giovanni Rossi desembarca no porto de Paranaguá, acompanhado de cinco companheiros de luta e ideal anarquista com algo mais do que os simples sonhos de um imigrante italiano no Novo Mundo. Intelectual de posição própria dentro dos duros debates entre socialistas e anarquistas italianos acerca dos rumos da marcha revolucionária, Rossi chega ao Brasil com o intuito de colocar radicalmente à prova não só os conhecimentos que havia acumulado na organização de comunidades agrícolas autossustentadas, mas também o horizonte utópico de seus contemporâneos. Seu objetivo: a fundação de uma colônia rural guiada, de um lado, pela partilha igualitária do trabalho e dos recursos materiais e, de outro, pela crítica radical aos paradigmas morais, políticos e econômicos da sociedade liberal europeia. Valendo-se de experimentalismo científico e empenho revolucionário, Rossi almeja demonstrar, nos limites de um pequeno assentamento de imigrantes europeus em Palmeira (PR), a viabilidade do surgimento de uma nova sociedade. Para tanto, encontrará os obstáculos demasiado humanos do afeto e do desejo.
Ficção histórica, Um amor anarquista percorre os caminhos e descaminhos de uma comunidade de indivíduos dispostos a abandonar as tradicionais concepções de amor, família, religiosidade e posse e enfrentar os próprios limites íntimos em nome da realização de um ideal de humanidade. A partir dos registros da curta existência da Colônia Socialista Cecília (1890-1894) e de um uso esmerado da técnica narrativa, Miguel Sanches Neto resgata a memória de uma experiência histórica singular mediante o interesse no drama humano universal que ela encerra.
MIGUEL SANCHES NETO nasceu em 1965 em Bela Vista do Paraíso, no Paraná. Doutor em Teoria Literária pela Unicamp e professor na Universidade Estadual de Ponta Grossa, é autor de mais de 40 livros, dentre os quais Chove sobre minha infância, Um amor anarquista, A primeira mulher, A máquina de madeira, A segunda pátria e A Bíblia do Che. Finalista do Portugal Telecom e do Prêmio São Paulo, recebeu, entre outros, o Prêmio Cruz e Sousa (2002) e o Binacional das Artes e da Cultura Brasil-Argentina (2005). Teve trabalhos publicados em diversos países, dentre os quais Itália, Canadá, Espanha, e Um amor anarquista (2005) foi publicado na Argentina. Em 2014, recebeu a comenda da Ordem Estadual do Pinheiro, a mais alta honraria do Estado do Paraná. Em 2018 foi eleito reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa.